Depois de Uma perda tão lastimável e imensa como aqui nós sofremos por Dina Di. Que Deus a tenha em um ótimo lugar nosso respeito em sua memória! Só mesmo uma idéia de um negão muito bem concentrado e politizado dentro e fora do hip-hop, pra minimizar a dor ...Lázaro Erê (Opanijé )
Salve, Rapaziada, tudo certo??
O Blog “Aonde a Favela Chegou” trás esse começo de semana uma entrevista com Lázaro Erê- do grupo Opanijé. Um cara que assim como nós, é ”contestador e amante das velhas canções”
"Não importa o que você pensa. Não importa qual é a sua crença. Quem sabe a cura, nunca teme a doença." Lázaro Erê.
Confiram logo abaixo as idéias desse negão que tem muita idéia pra trocar.Paz!!!
1- Aonde a Favela Chegou!!! - Colé nego véi, tudo certinho? Porque Opanijé?
Opanijé é uma sigla que criamos que significa “Organização Popular Africana Negros Invertendo o Jogo Excludente” e é também o nome do toque e da dança do Orixá Omolú. Escolhemos porque tem a ver conosco, com o que vivenciamos e porque acreditamos num rap com personalidade, com uma cara mais Afro-brasileira.
2-Aonde a Favela Chegou!!! - Conte um pouco sobre você e sua trajetória dentro do Hip Hop.
Eu comecei em 1994 com uma banda chamada Erê Jitolú. A formação já começou fugindo do tradicional, Dj e Voz. Éramos eu e Juno nos vocais Dj Márcio nas pick-up’s e ao longo dos anos foram várias formações de guitarra, baixo, bateria, teclado e percussão. Tantas pessoas já passaram pela banda que eu nem me atrevo a falar aqui pra não comenter nenhuma injustiça (risos). A banda acabou em 2003 e em 2005 eu chamei Chiba e DumDum e formamos o Opanijé. Também fui um dos formadores da Posse Ori em 96 e que, coincidentemente, também acabou em 2003 e por sinal, teve uma festa de encerramento muito bonita no espaço Solar e na casa de Angola. Se eu não me engano, Paulo Brazil deve ter até o panfleto.
3-Aonde a Favela Chegou!!!- Há algum tempo, durante sua última passagem pelo Brasil, Afrika Bambaataa afirmou que o Funk Carioca (o dito Pankadão!) também era hip hop. Qual a sua opinião sobre isso?
O Funk Carioca têm origem dentro do Hip Hop Sim! Não só pelo fato de trabalharem com DJ que é um dos elementos da cultura, mas por ter suas origens no Break Beat e no Miami Bass. Mas hoje o Funk Carioca é um ritmo genuinamente brasileiro. Você não encontra nada igual em lugar nenhum do mundo. Não tem mais nada a ver com o hip hop em nenhum aspecto.
4-Aonde a Favela Chegou!!! - De uns tempos pra cá o pessoal do rap tem produzido seus próprios arranjos, feito suas próprias bases em casa mesmo, basta ter um computador com alguns programas básicos e boom!! o cara vira produtor e faz suas músicas. De modo geral isso é bom ou ruim para o rap?
Pra mim isso é ótimo! Pena que isso não é tão freqüente. Eu não canso de repetir que Rap não é só letra. Se fosse seria vendido em livrinho igual a cordel. Não adianta você ter uma letra foda, um “flow” massa se sua base é baixada na internet. Aquela sonoridade ali não é sua, não tem a sua cara, não foi feita pra você. Eu lembro que nos anos 90 a gente editava bases na fita cassete, pausando e gravando. Até hoje eu tenho uma gravação dessa época. Ainda mais hoje que temos tantos recursos à nossa disposição e muito mais baratos do que eram antes. Eu defendo que mesmo não tendo os recursos mais avançados pra fazer nosso som a gente tem que correr atrás de mostrar um trabalho com nossa cara. Eu mesmo, como apreciador, não tenho paciência pra escutar um Rap num instrumental que eu já conheço de outro Rap. Eu vou pra um show pra ver música, não karaokê.
5-Aonde a Favela Chegou!!! – Você acha que a internet deu aos artistas de música alternativa de modo geral novas pespectivas para mostrarem os seus trabalhos?
A internet hoje é o principal meio de comunicação do Rap no Brasil. Acho que esse é o futuro mesmo. Mas ainda temos muito que batalhar fora da rede. Não dá pra ficar acomodado e achar que não precisamos mais imprimir panfletos para divulgar um evento, por exemplo. Ou que não precisamos batalhar pra gravar nosso CD porque podemos deixar o mp3 pra baixar. O CD está marcado pra morrer, mas ainda não morreu .
6-Aonde a Favela Chegou!!! – Você acha que a militância está acabando dentro do rap? O dito hip hop social, Com tanta diversidade de temas dentro do rap, ainda tem espaço para esse seguimento?
Não acho que a militância tenha acabado. Só não é mais a mesma que fazíamos há 10 anos. E nem tem que ser mesmo! A diversidade de temas só mostra que o Rap ainda tem muito sobre o que falar. Não acho que exista um tema obrigatório dentro do rap. O Opanijé opta por falar desses temas mais politizados, mas isso é uma escolha nossa porque esse foi o rap que eu aprendi a fazer. O que não significa que a gente deva descartar o rap que fala de festa ou de crime ou do que quer que seja. Se a gente luta pela liberdade de expressão, é contraditório ficar censurando fulano ou cicrano. E é a diversidade de temas que faz o Rap ser mais interessante.
7- Aonde a Favela Chegou!!! – A mídia convencional (leia-se TV!) sempre foi um tema polêmico dentro do hip hop. O Opanijé iria a um programa de TV, Qual a sua opinião sobre isso?
Acho que sim, vai depender do programa, das condições, etc... Só acho contra-senso PAGAR pra aparecer na TV. Até porque a gente nem tem grana pra isso ainda...(risos) Acho que a mídia que você escolhe pra divulgar seu trabalho não muda a essência do que você faz, a não ser que você faça tanta questão de aparecer que se adapte a tudo que eles queiram que você faça, o que não é o nosso caso. Tem gente que grita e esbraveja contra a TV, mas sonha em ter clip na MTV. MTV não é TV? Quem conhece a estrutura sabe que aquilo ali não é, nem nunca foi “mídia alternativa”.
8- Aonde a Favela Chegou!!! – Há pouco mais de um (1) ano o Opanijé fez uma apresentação na sala do coro do Teatro Castro Alves-TCA, você acha que acima de tudo o rap é musica e tem que ir para o “além da favela”??
Pra mim o som no TCA foi um dos melhores que a gente já fez. Tanto pela estrutura, quanto pela aceitação do público. Eu nunca tive essa idéia de que o rap era só periferia. Até porque quando a gente começou tinha mais evento no centro que nos bairros. Então ia todo tipo de público: punk, pagodeiro, skatista, neo-hippie, etc... , Não dá pra ser seletivo com público fazendo rap em Salvador. Quem quiser fazer som só pra os “do rap” vai continuar tocando pra 50 pessoas e tá se contradizendo quando fala que quer conscientizar... Conscientezar quem? As mesmas 50 cabeças?
9-Aonde a Favela Chegou!!!– O seu antigo grupo, o Erê Jitolú foi um dos primeiros na cidade a fazer a fusão do rap tradicional com banda. Vocês tem a pretensão de fazer isso novamente?
Pensamos sim, mas isso é um projeto para o futuro. Apesar de que nas nossas bases já incluímos alguns instrumentos tocados. Tocar com instrumentos, lidar com músicos dá trabalho, mas é um trabalho que compensa quando o resultado é bom. Algumas pessoas têm ainda esse preconceito com o rap feito com banda, mas aí é mente fechada, mesmo! Antigamente eu até me estressava discutido isso, mas hoje eu vejo que nem vale a pena.
10- Aonde a Favela Chegou!!! – O que Lázaro e o Opanijé tem escutado últimante: de rap nacional e gringo e de outras sonoridades ?
Ah, é coisa pra caralho! Eu costumo dizer que tudo que eu sampleio, eu ouço de verdade: Tipo The Ethiopians, De Phazz, Bad Brains, as Orquestras Rumpilezz, OBMJ e a extinta Afro-Brasileira. Engraçado é que em matéria de Rap gringo eu até tento, mas só consigo ouvir as paradas dos anos 90 tipo Boogie Down Productions, A Tribe Called Quest, Pharcyde, Jurassic 5. Tudo que eu curto de novidade quem tá lançando é a mesma galera dos anos 90 tipo Q-Tip, KRS One, Talib Kweli, Hi-Tek, Mos Def, Dilated Peoples... Mas tem coisa boa depois disso, tipo Spank Rock que é bem experimental... Nacional eu tenho dado preferência aos parceiros (risos) De Leve, RBF, Versu2, X, Thaíde, B-Negão... Mas tem coisa boa fora desse circuito também, tipo o Emicida, Renegado, Ataque Beliz, Pentágono entre outros que eu não lembro agora.
11- Aonde a Favela Chegou!!! – Pra quem não viu e nem vivenciou, conte-nos um pouco do que foi à Posse Ori, considerada o primeiro núcleo de Hip Hop organizado de Salvador.
A Posse Ori pra mim foi o maior espaço de aprendizagem que o rap de Salvador já teve. Começou com uma reunião inocente em 96 e ganhou uma dimensão que até hoje eu não vi igual na cidade. Era uma posse que na época era formada pelos grupos Erê Jitolú, Elemento X ,Ideólogia Alicerce, Atitude Presente, Atitude Negra, Black Power, a Crew da DN (hoje todos extintos), entre outras pessoas que não faziam rap, não dançavam, não grafitavam, mas sempre estavam ali coladas nas atividades. A gente fazia reuniões na sede da Unegro, no Pelourinho sempre às quintas e aos domingos no passeio público. Fizemos o 1º Festival de Hip Hop de Salvador na Gamboa de Baixo, em 1997, o festival do fantoches em 98, além de várias atividades de cunho social, tipo seminários, debates, doação de roupas... Alguns dizem que essa foi a “época de ouro” do Hip Hop baiano e em alguns aspectos eu até concordo. Éramos um bando de guris se metendo a fazer algo que nunca tinha sido feito aqui na cidade e conseguimos atrair a atenção de políticos, jornalistas, militantes do movimento negro, ONG’s... Porque tínhamos uma visão politizada do negócio, entende? Não era só organizar som e botar os grupos pra tocar. Hoje eu entendo que isso também é um tipo de militância, mas na época a coisa ia muito além.
12- Aonde a Favela Chegou!!! – Como você ver o atual momento do rap brasileiro?
Acho que o rap no Brasil tá passando por uma fase de transição que eu considero positiva, porque as coisas não estão mais centralizadas só no sudeste. Acho que SP teve e ainda têm sua importância na história do rap e da cultura hip hop, mas chegou a hora do restante do país mostrar a sua cara. Ao contrário do que se pensa, o Rap no Brasil não se resume a cópias do que se faz em SP ou no RJ e é isso que nós estamos tentando mostrar.
13- Aonde a Favela Chegou!!! – Você foi um dos pioneiros a colocar a cara preta do rap baiano no circuito do carnaval. Você defende um circuito paralelo para o rap (como vem sendo feito com o Rock), ou você acha que tem que meter a cara nos circuitos tradicionais mesmo?
Começou em 98 com a Erê jitolú no trio do antigo Petipreço, depois veio o Bloco do Cen em 2006, onde o Opanijé dividiu o trio com Thaíde (que também adorou a experiência) e até hoje a gente toca em trio! De alguns anos pra cá a gente vem participando da Mudança do Garcia. Acho que tem que rolar as duas coisas. Seria legal um “Palco do Rap” como aconteceu em 2008 se eu não engano. Mas, na minha opinião, não tem coisa melhor do que rap em cima de Trio Elétrico. Quem teve essa experiência sabe como é bom tocar pra o povão. Esse é o verdadeiro objetivo do rap. Você vê as reações mais diversas enquanto o trio vai passando. As pessoas tão esperando Ivete ou Rebolation, sei lá... e aí, pensar que não, recebem um batidão de Rap pela caixa dos peitos! Se até os crentes saem no carnaval, porque logo o rap tem ser contra? De jeito nenhum!
14- Aonde a Favela Chegou!!! – Há alguns anos tive a oportunidade de ver um projeto do coletivo “Hip Hop Com Compromisso” no colégio João das Botas, No que consiste esse projeto, qual a proposta dele?
O Hip Hop Com Compomisso na verdade é um coletivo que se reúne para realizar projetos sociais utilizando os elementos da cultura hip hop. Esse projeto que você citou foi uma atividade de 3 meses que nós promovemos nesse colégio com a participação de 50 crianças e adolescentes. Nosso objetivo é sempre fazer projetos na área de educação, principalmente com a galera mais nova. Esse projeto teve aulas de rap, break, DJ, grafitte, percussão e violão. Além das palestras com convidados especialistas das mais diversas áreas como Sociólogos pedagogos, professores universitários... enfim, uma forma de instigarmos a molecada a ficar mais antenada com as questões sociais e raciais através do hip hop.
15- Aonde a Favela Chegou!!! – Sendo que é um som de periferia, você acha que o rap deveria ser tão popular quanto o “Arrocha” ou o “Pagode”? Se sim, o que falta para esse boom?
Deveria, não! O rap É tão ou mais popular que arrocha e pagode na sua essência e na sua origem. O problema é que quando ele chega aqui no Brasil recebe o rótulo idiota de “alternativo” o rap não é alternativo a nada. Se um rapper não tiver o objetivo de fazer o som dele estar nas cabeças e nas bocas das pessoas, ele que vá fazer outra coisa! O que falta pra que isso se consolide é termos essa consciência e parar de tentar selecionar nosso público. É o público que nos seleciona e não o contrário.
16- Aonde a Favela Chegou!!! – Tem sido cada vez mais comum artistas de outros gêneros musicais convidarem o pessoal do rap para participar de seus trabalhos. Como você vê isso? Seria definitivamente um reconhecimento do rap como música?
Claro! O rap sempre trabalhou com as misturas. Rap é feito disso! Eu lembro que a gente era muito criticado na época da Erê porque fazia misturas com samba, rock... muitos falavam que preferiam o “rap raiz”. Mas Run DMC já usava guitarras distorcidas nos anos 80 e Afrika Bambaataa fez um cover de uma banda Punk no 1º disco. Então que “rap raiz” é esse? Muita gente fala de “rap raiz”, mas só conhece de Racionais pra cá! Eu, particularmente gosto de ver a galera do rap invadir outros espaços, de rock, reggae, samba e até o pagode, por que não? Desde que seja de forma digna, sem mendigar nada, é sinal de que o trabalho é sério e está rendendo frutos para além dos circuitos.
17- Aonde a Favela Chegou!!! – Deixe aí o seu salve para a galera que acessa o blog Aonde a Favela Chegou!!! , e deixe também o contato e o myspace do grupo.
Valeu ao blog pela iniciativa e pelo espaço cedido. E que projetos como esse venham a somar na cultura Hip Hop de Salvador. E pra galera que acessa: Continuem acessando e divulgando para que as pessoas possam conhecer melhor o trabalho do hip hop na cidade. Axé!
A internet hoje é o principal meio de comunicação do Rap no Brasil. Acho que esse é o futuro mesmo. Mas ainda temos muito que batalhar fora da rede. Não dá pra ficar acomodado e achar que não precisamos mais imprimir panfletos para divulgar um evento, por exemplo. Ou que não precisamos batalhar pra gravar nosso CD porque podemos deixar o mp3 pra baixar. O CD está marcado pra morrer, mas ainda não morreu .
6-Aonde a Favela Chegou!!! – Você acha que a militância está acabando dentro do rap? O dito hip hop social, Com tanta diversidade de temas dentro do rap, ainda tem espaço para esse seguimento?
Não acho que a militância tenha acabado. Só não é mais a mesma que fazíamos há 10 anos. E nem tem que ser mesmo! A diversidade de temas só mostra que o Rap ainda tem muito sobre o que falar. Não acho que exista um tema obrigatório dentro do rap. O Opanijé opta por falar desses temas mais politizados, mas isso é uma escolha nossa porque esse foi o rap que eu aprendi a fazer. O que não significa que a gente deva descartar o rap que fala de festa ou de crime ou do que quer que seja. Se a gente luta pela liberdade de expressão, é contraditório ficar censurando fulano ou cicrano. E é a diversidade de temas que faz o Rap ser mais interessante.
7- Aonde a Favela Chegou!!! – A mídia convencional (leia-se TV!) sempre foi um tema polêmico dentro do hip hop. O Opanijé iria a um programa de TV, Qual a sua opinião sobre isso?
Acho que sim, vai depender do programa, das condições, etc... Só acho contra-senso PAGAR pra aparecer na TV. Até porque a gente nem tem grana pra isso ainda...(risos) Acho que a mídia que você escolhe pra divulgar seu trabalho não muda a essência do que você faz, a não ser que você faça tanta questão de aparecer que se adapte a tudo que eles queiram que você faça, o que não é o nosso caso. Tem gente que grita e esbraveja contra a TV, mas sonha em ter clip na MTV. MTV não é TV? Quem conhece a estrutura sabe que aquilo ali não é, nem nunca foi “mídia alternativa”.
8- Aonde a Favela Chegou!!! – Há pouco mais de um (1) ano o Opanijé fez uma apresentação na sala do coro do Teatro Castro Alves-TCA, você acha que acima de tudo o rap é musica e tem que ir para o “além da favela”??
Pra mim o som no TCA foi um dos melhores que a gente já fez. Tanto pela estrutura, quanto pela aceitação do público. Eu nunca tive essa idéia de que o rap era só periferia. Até porque quando a gente começou tinha mais evento no centro que nos bairros. Então ia todo tipo de público: punk, pagodeiro, skatista, neo-hippie, etc... , Não dá pra ser seletivo com público fazendo rap em Salvador. Quem quiser fazer som só pra os “do rap” vai continuar tocando pra 50 pessoas e tá se contradizendo quando fala que quer conscientizar... Conscientezar quem? As mesmas 50 cabeças?
9-Aonde a Favela Chegou!!!– O seu antigo grupo, o Erê Jitolú foi um dos primeiros na cidade a fazer a fusão do rap tradicional com banda. Vocês tem a pretensão de fazer isso novamente?
Pensamos sim, mas isso é um projeto para o futuro. Apesar de que nas nossas bases já incluímos alguns instrumentos tocados. Tocar com instrumentos, lidar com músicos dá trabalho, mas é um trabalho que compensa quando o resultado é bom. Algumas pessoas têm ainda esse preconceito com o rap feito com banda, mas aí é mente fechada, mesmo! Antigamente eu até me estressava discutido isso, mas hoje eu vejo que nem vale a pena.
10- Aonde a Favela Chegou!!! – O que Lázaro e o Opanijé tem escutado últimante: de rap nacional e gringo e de outras sonoridades ?
Ah, é coisa pra caralho! Eu costumo dizer que tudo que eu sampleio, eu ouço de verdade: Tipo The Ethiopians, De Phazz, Bad Brains, as Orquestras Rumpilezz, OBMJ e a extinta Afro-Brasileira. Engraçado é que em matéria de Rap gringo eu até tento, mas só consigo ouvir as paradas dos anos 90 tipo Boogie Down Productions, A Tribe Called Quest, Pharcyde, Jurassic 5. Tudo que eu curto de novidade quem tá lançando é a mesma galera dos anos 90 tipo Q-Tip, KRS One, Talib Kweli, Hi-Tek, Mos Def, Dilated Peoples... Mas tem coisa boa depois disso, tipo Spank Rock que é bem experimental... Nacional eu tenho dado preferência aos parceiros (risos) De Leve, RBF, Versu2, X, Thaíde, B-Negão... Mas tem coisa boa fora desse circuito também, tipo o Emicida, Renegado, Ataque Beliz, Pentágono entre outros que eu não lembro agora.
11- Aonde a Favela Chegou!!! – Pra quem não viu e nem vivenciou, conte-nos um pouco do que foi à Posse Ori, considerada o primeiro núcleo de Hip Hop organizado de Salvador.
A Posse Ori pra mim foi o maior espaço de aprendizagem que o rap de Salvador já teve. Começou com uma reunião inocente em 96 e ganhou uma dimensão que até hoje eu não vi igual na cidade. Era uma posse que na época era formada pelos grupos Erê Jitolú, Elemento X ,Ideólogia Alicerce, Atitude Presente, Atitude Negra, Black Power, a Crew da DN (hoje todos extintos), entre outras pessoas que não faziam rap, não dançavam, não grafitavam, mas sempre estavam ali coladas nas atividades. A gente fazia reuniões na sede da Unegro, no Pelourinho sempre às quintas e aos domingos no passeio público. Fizemos o 1º Festival de Hip Hop de Salvador na Gamboa de Baixo, em 1997, o festival do fantoches em 98, além de várias atividades de cunho social, tipo seminários, debates, doação de roupas... Alguns dizem que essa foi a “época de ouro” do Hip Hop baiano e em alguns aspectos eu até concordo. Éramos um bando de guris se metendo a fazer algo que nunca tinha sido feito aqui na cidade e conseguimos atrair a atenção de políticos, jornalistas, militantes do movimento negro, ONG’s... Porque tínhamos uma visão politizada do negócio, entende? Não era só organizar som e botar os grupos pra tocar. Hoje eu entendo que isso também é um tipo de militância, mas na época a coisa ia muito além.
12- Aonde a Favela Chegou!!! – Como você ver o atual momento do rap brasileiro?
Acho que o rap no Brasil tá passando por uma fase de transição que eu considero positiva, porque as coisas não estão mais centralizadas só no sudeste. Acho que SP teve e ainda têm sua importância na história do rap e da cultura hip hop, mas chegou a hora do restante do país mostrar a sua cara. Ao contrário do que se pensa, o Rap no Brasil não se resume a cópias do que se faz em SP ou no RJ e é isso que nós estamos tentando mostrar.
13- Aonde a Favela Chegou!!! – Você foi um dos pioneiros a colocar a cara preta do rap baiano no circuito do carnaval. Você defende um circuito paralelo para o rap (como vem sendo feito com o Rock), ou você acha que tem que meter a cara nos circuitos tradicionais mesmo?
Começou em 98 com a Erê jitolú no trio do antigo Petipreço, depois veio o Bloco do Cen em 2006, onde o Opanijé dividiu o trio com Thaíde (que também adorou a experiência) e até hoje a gente toca em trio! De alguns anos pra cá a gente vem participando da Mudança do Garcia. Acho que tem que rolar as duas coisas. Seria legal um “Palco do Rap” como aconteceu em 2008 se eu não engano. Mas, na minha opinião, não tem coisa melhor do que rap em cima de Trio Elétrico. Quem teve essa experiência sabe como é bom tocar pra o povão. Esse é o verdadeiro objetivo do rap. Você vê as reações mais diversas enquanto o trio vai passando. As pessoas tão esperando Ivete ou Rebolation, sei lá... e aí, pensar que não, recebem um batidão de Rap pela caixa dos peitos! Se até os crentes saem no carnaval, porque logo o rap tem ser contra? De jeito nenhum!
14- Aonde a Favela Chegou!!! – Há alguns anos tive a oportunidade de ver um projeto do coletivo “Hip Hop Com Compromisso” no colégio João das Botas, No que consiste esse projeto, qual a proposta dele?
O Hip Hop Com Compomisso na verdade é um coletivo que se reúne para realizar projetos sociais utilizando os elementos da cultura hip hop. Esse projeto que você citou foi uma atividade de 3 meses que nós promovemos nesse colégio com a participação de 50 crianças e adolescentes. Nosso objetivo é sempre fazer projetos na área de educação, principalmente com a galera mais nova. Esse projeto teve aulas de rap, break, DJ, grafitte, percussão e violão. Além das palestras com convidados especialistas das mais diversas áreas como Sociólogos pedagogos, professores universitários... enfim, uma forma de instigarmos a molecada a ficar mais antenada com as questões sociais e raciais através do hip hop.
15- Aonde a Favela Chegou!!! – Sendo que é um som de periferia, você acha que o rap deveria ser tão popular quanto o “Arrocha” ou o “Pagode”? Se sim, o que falta para esse boom?
Deveria, não! O rap É tão ou mais popular que arrocha e pagode na sua essência e na sua origem. O problema é que quando ele chega aqui no Brasil recebe o rótulo idiota de “alternativo” o rap não é alternativo a nada. Se um rapper não tiver o objetivo de fazer o som dele estar nas cabeças e nas bocas das pessoas, ele que vá fazer outra coisa! O que falta pra que isso se consolide é termos essa consciência e parar de tentar selecionar nosso público. É o público que nos seleciona e não o contrário.
16- Aonde a Favela Chegou!!! – Tem sido cada vez mais comum artistas de outros gêneros musicais convidarem o pessoal do rap para participar de seus trabalhos. Como você vê isso? Seria definitivamente um reconhecimento do rap como música?
Claro! O rap sempre trabalhou com as misturas. Rap é feito disso! Eu lembro que a gente era muito criticado na época da Erê porque fazia misturas com samba, rock... muitos falavam que preferiam o “rap raiz”. Mas Run DMC já usava guitarras distorcidas nos anos 80 e Afrika Bambaataa fez um cover de uma banda Punk no 1º disco. Então que “rap raiz” é esse? Muita gente fala de “rap raiz”, mas só conhece de Racionais pra cá! Eu, particularmente gosto de ver a galera do rap invadir outros espaços, de rock, reggae, samba e até o pagode, por que não? Desde que seja de forma digna, sem mendigar nada, é sinal de que o trabalho é sério e está rendendo frutos para além dos circuitos.
17- Aonde a Favela Chegou!!! – Deixe aí o seu salve para a galera que acessa o blog Aonde a Favela Chegou!!! , e deixe também o contato e o myspace do grupo.
Valeu ao blog pela iniciativa e pelo espaço cedido. E que projetos como esse venham a somar na cultura Hip Hop de Salvador. E pra galera que acessa: Continuem acessando e divulgando para que as pessoas possam conhecer melhor o trabalho do hip hop na cidade. Axé!
Lázaro Erê ,Chiba, DumDum (Opanijé)
Opanijé-Valeu Zumbi
Opanijé- Se Voçe ainda não notou
Erê Jitolú ad Perpetua
Baixe aqui o CD completão do Opanijé !!
Nosso Myspace:
Orkut:
Email: opanijehiphop@gmail.com
Abraço....
Paulo Brazil/STN-Amante do Viinil!!!
Apreciador da Cltura Hip Hop!!!
Muita paz Minhar Familia..
Saudações a todos e todas!!!
ResponderExcluirDeixo aqui o meu salve para O Opanijé, em especial para o Lázaro Erê, muito lúcido e reflexivo em suas colações. Seja no Rap, na militância, nas comunidades periféricas ou na academia, necessitamos de pessoas assim, sem papa na língua e coerente.
Êa Lázaro Erê, parabéns ao/a entrevistador/a do blog "Aonde a Favela Chegou!!!" com a elaboração das perguntas coesas e instigantes.
Grande abraço e vida longa para todos/as nós!!!
Mandou bem negão, respostas de gente grande.
ResponderExcluirValeu rapa!!
ResponderExcluirAxé
Saudações,
ResponderExcluirsó quero ratificar que não só tem 'rapa' aqui na lista de comentários, tem 'mulher' também.
A primeira (Vilma Neres) a postar o comentário acima.
Salve Lázaro!!!
ResponderExcluirObrigado pela disponibilidade e atenção cedida ao nosso blog, que essa seja apenas a primeira de muitas.
Grande abraço.
"... estamos fazendo hisória meus amigos..." KL Jay.
O Blog "Aonde a Favela Chegou", é elaborado por Léo Morais (fala parceiro!), e Paulo Brazil!!!
Paulo Brazil/STN-Amante do Vinil!!!
Apreciador da Cultura Hip Hop!!!
Isso sim!!! é deste geito mesmo gostei da entrevista acheii bem inteligente
ResponderExcluire o Blog ta de parabéns
Sempre em frente Lázaro, e lembrando que a vida não é um videoclipe e que na vida real a lâmina fere e o que tem ponta perfura, assim como as palavras... E as suas foram bem colocadas, impactantes, mas dá pra deixar o cara de pé e pronto pra refletir... Axé e tudo de bom!!
ResponderExcluirGomez
Opaa...
ResponderExcluirExelente matéria e idéias !!!
E estou curtindo ver o trampo dessa galera.
1 Lemon-Abração aê !!!
Os caras "do rap" tem q ler entrevistas desse tipo e sair da casca do Ovo, dentro do ovo só tem no máximo 50 cabeças pra conscientizar, ta ligado!!!
ResponderExcluirNa contra mão desses discursos fudidos e reproduzidos tá aê Lazara Erê.
Parabens ao blog pelo trampo!!!
OtraVidda negoo!!!
Tamu Blindado de aXé!!!